sexta-feira, 27 de janeiro de 2012


Café "Escribà"




Saio para a rua despojada, submersa na tempestade de ideias que o dia anterior me causou. Decidi caminhar de mãos vazias. Ontem foi um dia rico. Falei com Gui Bonsiepe mais de 3 horas. E no final, assisti à sua conferência, motivo pela qual se deslocou a Barcelona desde Florianópolis.
O encontro foi rico e perturbador. De difícil digestão como quase todas as conversas que incluem o heterodoxo.

Agora estou no “Escriba”, depois de algumas horas de passeio, leve. Livre. Sento-me e aprecio, quase em tom de desconstrução, o espaço, as pessoas, o meu doce. Terá chila? Adivinho todos os ingredientes. Estou a impor uma análise sistemática estruturante não só à minha tese, como à minha própria degustação...(céus......! )

Chega um casal estrangeiro e senta-se à minha frente. Olham-me bastante. Será raro escrever um manuscrito... sobretudo se algo recostado!
Pedem os bolos mais formalistas do escriba, de rebuscada decoração, lisongeio ao "chique" em toda a sua expressão. Antes de começarem, tiram fotos com os seus iphones. Ambos. Quase não se falam. Comem. Vestem-se de igual. Têm um guia de Barcelona pousado na mesa.

Passados minutos, entra outro casal. Sentam-se ao lado. Os mesmos gestos, cores, sabores, expressão. Reproduzem os primeiros. São meticulosamente iguais aos outros. Maravilhosamente iguais. Terão brincado com os mesmos brinquedos e provavelmente morrerão da mesma doença. Sentindo-se ainda assim meticulosamente únicos na sua dor e na sua alegria, nas suas vidas, nas suas viagens.

E eu por trás disto. Exactamente igual a eles. Uma réplica... hoje com uma estranha e falaciosa sensação que ando por cima das mentes. Uma temporária e enebriosa sensação de quem digere ricos e únicos encontros. Obrigada Bonsiepe.

Por mim viveria a vida inteira a falar com eventuais “gurus”. Gente que elejo, que (re)descubro (me), que me alimenta. Talvez até me habituasse.