terça-feira, 30 de março de 2010



a carta da paixão (herberto helder)

In:
PHOTOMATON & VOX
Herberto Helder
Lisboa, Assírio & Alvim, 1995



Esta mão que escreve a ardente melancolia
da idade
é a mesma que se move entre as nascenças da cabeça,
que à imagem do mundo aberta de têmpora
a têmpora
ateia a sumptuosidade do coração. A demência lavra
a sua queimadura desde os seus recessos negros
onde se formam
as estações até ao cimo,
nas sedas que se escoam com a largura
fluvial
da luz e a espuma, ou da noite e as nebulosas
e o silêncio todo branco.
Os dedos.
A montanha desloca-se sobre o coração que se alumia: a língua
alumia-se: O mel escurece dentro da veia
jugular talhando
a garganta. Nesta mão que escreve afunda-se
a lua, e de alto a baixo, em tuas grutas
obscuras, essa lua
tece as ramas de um sangue mais salgado
e profundo. E o marfim amadurece na terra
como uma constelação. O dia leva-o, a noite
traz para junto da cabeça: essa raiz de osso
vivo. A idade que escrevo
escreve-se
num braço fincado em ti, uma veia
dentro
da tua árvore. Ou um filão ardido de ponto a ponta
da figura cavada
no espelho. Ou ainda a fenda
na fronte por onde começa a estrela animal.
Queima-te a espaçosa
desarrumação das imagens. E trabalha em ti
o suspiro do sangue curvo, um alimento
violento cheio
da luz entrançada na terra. As mãos carregam a força
desde a raiz
dos braços a força
manobra os dedos ao escrever da idade, uma labareda
fechada, a límpida
ferida que me atravessa desde essa tua leveza
sombria como uma dança até
ao poder com que te toco. A mudança. Nenhuma
estação é lenta quando te acrescentas na desordem, nenhum
astro
é tao feroz agarrando toda a cama. Os poros
do teu vestido.
As palavras que escrevo correndo
entre a limalha. A tua boca como um buraco luminoso,
arterial.
E o grande lugar anatómico em que pulsas como um lençol lavrado.
A paixão é voraz, o silêncio
alimenta-se
fixamente de mel envenenado. E eu escrevo-te
toda
no cometa que te envolve as ancas como um beijo.
Os dias côncavos, os quartos alagados, as noites que crescem
nos quartos.
É de ouro a paisagem que nasce: eu torço-a
entre os braços. E há roupas vivas, o imóvel
relâmpago das frutas. O incêndio atrás das noites corta
pelo meio
o abraço da nossa morte. Os fulcros das caras
um pouco loucas
engolfadas, entre as mãos sumptuosas.
A doçura mata.
A luz salta às golfadas.
A terra é alta.
Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas.

domingo, 28 de março de 2010

quarta-feira, 24 de março de 2010

“O coração tem mais quartos que uma casa de putas” in “O Amor nos Tempos de Cólera” de Gabriel García Marquéz
existe uma arritmia ténue
no coração de quem recusou
o amor de outrém, um coração
ténue que se sobrepõe ao que
já se tem.
(valter hugo mãe)

terça-feira, 23 de março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010






Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar

sábado, 20 de março de 2010



Above everything
Above every day



POTÊNCIA EM ESTADO BRUTO
GDT PJ

quinta-feira, 18 de março de 2010

o zé partiu

Domingo. Dia cinzento. Liguei ao Zé. Um café foi o combinado. Passados 30 minutos tinha-me sentada a uma mesinha pequena de um dos salões das redondezas que nos trata bem e sentimos familiar, onde nos últimos tempos íamos por comodidade. Lá estávamos, eu e o Zé que também tinha como tão familiar! Não era dos meus amigos mais antigos, nem dos mais presentes. Era um amigo de quem eu gostava tanto...quase sem saber donde vinha todo aquele apreço, ...talvez por ser a coisa mais natural de se sentir depois de conhecer o Zé. Em nós, desde o início a empatia existiu e foi crescendo. Depressa me rendi incondicionalmente à sua gargalhada, ao seu gosto pela vida, à sua alma GRANDE.

Naquele domingo falava-lhe dos desencontros da semana, dos dias menos bons, das esquinas angulosas com que me deparava...e acabaria por naquela tarde engendrar tantos defeitos nisto e naquilo, complicar feitios...enfim, falava-lhe da minha insatisfação, ainda que com alguma leveza, por entre doces e golos de chá... O Zé sabia ouvir. E sempre que era preciso parava o riso e ficava atento. Era tão infantil e tão maduro, inconsciente do seu brilhantismo neste paradoxo...

Dele ouvi num registo límpido que ecuou em mim, numa sabedoria que também ele queria aplicar aos seus dias: "não vamos complicar, qualquer dia se pomos defeitos em tudo e em todos, estamos sozinhos e ninguem nos atura, nem nós"...talvez por outras palavras, mas foi isto que ficou...E rimos os dois. O bastante. De nós, da vida, dos (des)encontros, dos dias, das mil histórias...
Acho que o encontro com o Zé foi um encontro feliz, de muita luz, que me faz esboçar um sorriso, agora.
Sempre o senti Maior do que nós, e isto é tremendamente inexplicável. Sempre o senti especial e com uma dimensão humana invulgar.
Deixa-lo-ei partir, a caminho da sua evolução que acredito que todos teremos que fazer.
E quantas gargalhadas demos juntos...O sorriso do Zé ficará sempre comigo.

I.c.n.

quarta-feira, 17 de março de 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

http://www.scribd.com/doc/26316717/Jose-Gil-O-homem-que-nao-procura-a-felicidade-Publico-201001

vale a pena, apesar de já ter 3 meses.



Eu invejo com todos os meus poros estes TIPOS .
vou vê-los e dizer-lhes isso pessoalmente.
LCD Soundsystem no Sónar este ano na Corunha...já em Junho!!!

domingo, 14 de março de 2010


...uma foto do meu fds branco, com muito vinho do Porto :)

quinta-feira, 11 de março de 2010

http://www.holocene.org/media/wp-content/uploads/2008/10/hauschka.jpg
Substantial The prepared piano Room to Expand Ferndorf Snowflakes and Carwrecks
Small Pieces
dias bons para hauschka :)

quarta-feira, 10 de março de 2010

terça-feira, 9 de março de 2010

domingo, 7 de março de 2010

Projecto de Sucessão


Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua
continuar deitado até se destruir a cama
permanecer de pé até a polícia vir
permanecer sentado até que o pai morra

Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos

Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
pôr-se nu em casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitro-glicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se Índias.



António Maria Lisboa
poesia
Assírio & Alvim
1995

quinta-feira, 4 de março de 2010

terça-feira, 2 de março de 2010

FOUR TET _ PLASTIC PEOPLE

segunda-feira, 1 de março de 2010